Dia desses atrás, dona Terezinha faltou uns dias de trabalho em decorrência de greves de ônibus. Coube ao pai de Sofia arrumá-la pra ir à escola, enquanto eu estava trabalhando. Cheguei ao apartamento no horário de almoço, ainda em tempo de vê-los se preparando. O pai dela, que não tem costume com esse tipo de tarefa, foi verirficar a mala da Sofia e retirou a capa de chuva. Sofia resistiu chorando dizendo que era pra usar em caso de vir a chover. O pai dela afirmou categoricamente que não seria necessário naquele dia, com certeza aquela época não era de chuva, e seria melhor tirar a capa.
Sofia veio pra mim desapontada, quase chorosa, dizendo que queria levar a capa de chuva de "privinição"!
Lembrei-me de ter ouvido essa palavrinha sendo dita pela dona Terezinha. Na história de vida de dona Terezinha entendo o linguajar dela. E não costumo corrigi-la ou julgá-la errada, principalmente na frente da Sofia, para não ensiná-la equivocadamente a estereotipar ou desvalorizar pessoas em consequência da língua falada.
Mas aí, na hora precisei fazer a correção da palavra para Sofia. Tentei sutilmente fazer a correção e disse algo semelhante a: - Você está certa quanto a 'prevenção' Sofia, é que o seu pai...
Sofia me interrompeu logo, percebendo a minha intenção e me "corrigindo": - Não mamãe, prevenção não, é privinição!
Pra mim, só restava ser explícita, e deixar de arrodeios:
- Sofia, quem fala 'privinição' aqui em casa é a dona Terezinha, pois ela aprendeu assim e pensa que está certa. Mas a palavra certa é prevenção!
Surpreendemente, ela aceitou sem mais argumentos, insistências e resistências.
Aos poucos, à medida que ela for crescendo e em doses homeopáticas, irei ensinando-a a respeitar a língua falada das pessoas, combatendo o preconceito linguístico, ao mesmo tempo em que ela se apropria da Língua padrão e compreende os contextos de utilização!
Assim espero!